sábado, 7 de junho de 2008

Crise de ética no Governo de Yeda Crusius


Vice gaúcho divulga fita-bomba contra governo Yeda

*Gravação contém diálogo do vice com chefe da Casa Civil

*Falam sobre ‘esquemas’ partidários aboletados no Estado

*Discorrem sobre como legendas apropriam-se das verbas

*Em troca de apoio, Yeda seria conivente com malfeitorias

*O ‘aliado’ PP desvia verbas do Detran; PMDB, do Banrisul

A crise ética que rói a reputação da administração tucana do Rio Grande do Sul chegou, definitivamente, à sala da governadora Yeda Crusius.

Deve-se a escalada a uma gravação divulgada na tarde desta sexta-feira (6) por ninguém menos que o vice-governador do Estado, Paulo Feijó (DEM).

A fita tem duração de cerca de 20 minutos. Contém um diálogo do próprio vice-governador com o chefe da Casa Civil de Yeda, Cézar Busatto (PPS). A íntegra da transcrição pode ser lida aqui.

Embora eleito na chapa de Yeda, Feijó afastara-se da governadora antes mesmo da posse, em janeiro de 2007. Por isso Busatto o procurou. Buscava uma reaproximação.

A conversa entre os dois ocorreu há 13 dias, em 26 de maio. Sem que o interlocutor soubesse, o vice Feijó gravou todo o diálogo. Agora, resolveu pôr a conversa na rua.

E o fez em grande estilo: providenciou para que a fita chegasse à CPI do Detran, instalada na Assembléia gaúcha para apurar desvios de R$ 44 milhões.

No curso do diálogo, o vice Feijó e o chefe da Casa Civil Busatto discorrem sobre os desvios com assombroso conhecimento de causa.

Feijó fala como se estivesse inconformado com a passividade da governadora: “Por que encobrir o Detran (...) antes de eu entrar na política, nós já sabíamos que havia esse esquema no Detran. Todo mundo sabia, era público, por que não querer mudar?”

Noutro trecho, Busatto admite: “Então, entre nós, podemos deixar isso claro. Eu não tenho dúvida de que o Detran é uma grande fonte de financiamento.”

E Feijó: “Do PP?”

Busatto: “Não é verdade? E o Banrisul, com certeza, né? Nesses quatro anos [...].”

Seis dias antes de receber o chefe da Casa Civil de Yeda em sua sala, Feijó defendera a demissão do presidente do Banrisul, Fernando Lemos, um homem do PMDB.

Lemos comanda o banco estatal gaúcho desde a gestão do antecessor de Yeda, Germano Rigotto (PMDB). A governadora o manteve no cargo.

E o PMDB integra o bloco que sustenta a gestão Yeda na Assembléia Legislativa. Uma das razões que fizeram Busatto procurar Feijó foi o receio de que as críticas do vice-governador fomentassem uma nova CPI, dessa vez para vasculhar as arcas do Banrisul.

No diálogo com Feijó, gravado às escondidas, Busatto repisa uma tese que, por repetitiva, é velha conhecida do eleitor brasileiro: a perversão política seria o preço a pagar pelo suporte legislativo.

Busatto sugere a Feijó que se coloque no lugar de Yeda: “Se tivesse sentado naquela cadeira e, se não tiver 30 votos, mas 27 votos, 28 votos na Assembléia, eu não governo... Entende? É uma opção difícil.”

Em resposta, o vice-governador insinua que a inação da governadora pode esconder algo mais cabeludo: “Ok, politicamente eu concordo. Agora, eu não posso ser conivente com isso. Não na questão política, mas com a questão de roubo, desvio. Não pode. E ela [Yeda] está sendo [conivente]. Por questões políticas? Não sei. Ou por interesse financeiro? Não sei. Ou pelos dois?”

Lida numa sessão aberta da CPI, a transcrição da fita eletrizou a cena política de Porto Alegre nesta sexta-feira.

Um dia em que Yeda recebia visitantes ilustres de seu partido: o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB; e a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS). Foram discutir eleições municipais. Acabaram engolfados pela crise.

O “gravado” Cézar Busatto, em entrevista, desancou o "gravador" Paulo Feijó. Disse que o “vice-governador é um mau-caráter. Ele não é um homem honrado.”

Mas o chefe da Casa Civil gaúcha não teve como negar o conteúdo da gravação, captado por um mini-gravador digital. Em nota rubricada pelo senador Pedro Simon, seu presidente no Estado, o PMDB diz que acionará judicialmente Busatto e Feijó.

Yeda mandou dizer, por meio do porta-voz Paulo Fona, que deve se pronunciar sobre a encrenca ainda no final de semana. Bom, muito bom, ótimo. Tem, de fato, bastante coisa a explicar.

Repete-se no Rio Grande do Sul um fenômeno que vai se tornando enfadonho no Brasil: a apropriação privada de arcas públicas. Um grupo de estudantes protestou defronte do Palácio Piratini. Pediu-se, desde logo, o impeachment da governadora.

No papel de “mocinho” infiltrado na “quadrilha”, o vice-governador Feijó fugiu dos repórteres. Depois de disparar o seu “fogo amigo”, limitou-se a divulgar uma nota.

No texto, escreveu: “Sofri forte assédio moral para me manter calado e para que me adaptasse a um sistema que aos olhos de todos os gaúchos de bem é imoral e insustentável.”

Bota insustentável nisso!

Escrito por Josias de Souza



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