terça-feira, 3 de junho de 2008

Minério de ferro vira ouro em Minas Gerais


Disputado por investidores estrangeiros e grandes empresas brasileiras, o minério de ferro, ainda abundante em Minas Gerais, vem provocando cobiça e esperança de redenção econômica em municípios de quase todo o estado. A supervalorização da matéria-prima no mercado internacional, com a explosão do consumo da China, foi como transformar o ferro em ouro para donos de terrenos, hotéis e restaurantes, além dos moradores a procura de emprego. A revolução dos preços explica a corrida.

Nos últimos cinco anos, a tonelada de minério fino exportado pelo Brasil saiu de US$ 17, em média, para os atuais US$ 70. De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), os reajustes do minério de ferro somaram 374% de 2001 a este ano, depois de ficarem estagnados por cerca de 20 anos (queda de 1,7% de 1980 a 2000). O último estudo do Ibram, finalizado segunda-feira, aponta investimentos de US$ 47 bilhões em extração mineral no Brasil de 2008 a 2011, dos quais US$ 28 bilhões em minério – US$ 11,2 bilhões só em Minas. Os aportes farão a extração mineral (todo tipo de minério) brasileira saltar das atuais 350 milhões de toneladas para 670 milhões até 2011. “Com a demanda aquecida, não há estoques de minério de ferro no mundo, e é isso que está fazendo o preço disparar”, diz Paulo Camilo Penna, presidente do Ibram.

Alvo da maior parte dos projetos de retomada de pesquisas e de expansão da produção, a Região Central do estado mostra exemplos do impacto dessa corrida atrás do ferro. Nas esquinas da pequena Itatiaiuçú, a 58 quilômetros de Belo Horizonte, não se fala em outra coisa além dos planos de quem aguarda ansioso a hora de se beneficiar do aumento jamais imaginado da produção nas seis mineradoras abrigadas na cidade.

Herdeiro do fundador da antiga Minas Itatiaiuçu, comprada há um ano pela inglesa London Mining e em plena expansão, o motorista Marcelo Arruda de Faria ganhou fama ao reivindicar na Justiça a reintegração de posse do terreno assentado sobre parte da reserva. O imóvel que pertenceu ao pai dele, Vicente Esteves de Faria, é reclamado 31 anos depois da venda a um segundo dono, Carlos de Faria Tavares, que repassou a empresa à mineradora estrangeira. Remexendo os papéis deixados pelo patriarca da família Esteves de Faria, o oitavo dos 12 filhos levantou a polêmica sobre irregularidades que teriam sido cometidas na venda dos 182 hectares em 1977.

“Me chamam de milionário e até já me pedem dinheiro emprestado na rua. Espero mesmo ficar rico, mas não quero tirar a empresa de lá. Brigo pelo direito de receber os royalties dos últimos 20 anos, um direito da nossa família”, afirma Arruda. Na Igreja de São José, em São José do Salgado, distrito de Carmo do Cajuru, onde vive há 14 anos, ele pede graças à Santa Luiza, Santa Bárbara e a Nossa Senhora Aparecida. A viúva de Vicente Esteves, dona Elza, hoje com 80 anos, não teria autorizado o negócio feito pelo marido, que até sua morte reclamava freqüentemente ter perdido dinheiro na transação.

A pendência judicial começou há quatro semanas, quando a Comarca local, de Itaúna, e o desembargador Elpídio Donizetti, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ordenaram a paralisação das atividades da London Mining. A decisão não chegou a ser efetivada – a London continua operando – por força de agravo de instrumento apresentado pela empresa no próprio TJMG. O presidente da London Mining Brasil, Luciano Silva Ramos, diz que a empresa está segura quanto ao trabalho da equipe de advogados que assessoram no negócio. “Sob todos os aspectos, adquirimos o melhor ativo dessa região”, diz. Com investimentos de R$ 130 milhões, a partir deste mês, o ritmo de produção saltará 10 vezes, para 4 milhões de toneladas por ano de minério. As pesquisas minerais conduzidas pela London Mining indicam o dobro das reservas iniciais, agora reavaliadas em 500 milhões de toneladas.

Com informações do Estado de Minas



Nenhum comentário: